Em Julho
de 2015 a taxa de juros básica da economia brasileira, a SELIC, atingiu incríveis
14,25%, maior valor desde 2006. Patamar este que foi mantido durante boa parte
do ano de 2016 alimentado pelo agravamento da crise econômica e política. Com o
rally do impeachment concluído com sucesso os ânimos do mercado se acalmaram
e foi possível observar grande recuperação do mercado de ativos no país, tal
qual a recuperação do IBOVESPA e do IFIX.
Contudo, a pressão inflacionária que
se viu iniciar em 2014 começou a dar sinais de cansaço ao final de 2016 e no
último trimestre deste ano iniciou-se um ciclo de cortes da taxa SELIC.
Iniciado de maneira modesta pelo Banco Central com cortes na ordem de 0,25%
anuais a primeira reunião do COPOM em 2017 trouxe uma surpresa, um corte de
0,75%, o suficiente para se espalhar a ideia que as opções de investimento em
renda fixa estavam acabadas nas terras tupiniquins. Portais de corretoras de
grande atuação no mercado passaram a difundir o pensamento que a partir de
agora as apostas mais decentes do mercado seriam em renda variável, que o
Brasil estaria pronto para viver logo uma era com uma taxa básica de juros real na casa de 0%. Pronto! A renda fixa acabou pelo jeito, vou
me livrar de minhas aplicações em Tesouro Direto, CDB, LCI, LCA, fundos DI.
Antes de começar esse processo de
mutilação que é o giro patrimonial vamos parar por um momento e analisar alguns
números dos últimos três anos: o IPCA, a SELIC e os juros reais praticados no
Brasil neste período. Primeiramente, o que são juros reais? Juros reais são
nada mais, nada menos, que a taxa básica de juros (SELIC) descontados da inflação
medida (IPCA) no período analisado, ou seja é a verdadeira taxa de aumento do
patrimônio e o valor que importa na escolha dos investimentos. Há quem acredite
que basta subtrair a segunda da primeira, isto funciona razoavelmente bem em
países nos quais a inflação tende a zero, mas estamos no Brasil então há um
pequeno truque:
Fórmula para o
cálculo de juros reais
Diante
desta informação pode-se comparar os juros reais no Brasil nos últimos anos,
conforme mostrado no gráfico a seguir para 2014, 2015 e 2016:
SELIC, IPCA e Juros
Reais no Brasil nos anos de 2014, 2015 e 2016.
É possível
notar que juros reais variaram essencialmente em torno dos 4,50% anuais em todo
o período de análise, inclusive durante boa parte de 2016, por muitos chamado
de ano da renda fixa no Brasil. A exceção encontra-se no final de 2015 e início
de 2016 onde houve um pico inflacionário e para os últimos meses de 2016 quando
se teve uma trégua no IPCA, levando aos maiores juros reais do período em
análise. Diante desta constatação entende-se porque os juros estão em queda, o
ano de 2016 encerrou com os maiores juros reais nos últimos anos!
Ok, isso
foi em 2016 e taxas vistas no passado não são garantias de rendimentos futuros,
o que pode-se esperar para 2017? Para nos auxiliar nesta análise recorre-se a
ajuda do boletim Focus liberado pelo Banco Central em 27/01/2017 que reúne as
expectativas do mercado para 2017 com SELIC de 9,50% e IPCA de 4,70% e em 2018
com 9,00% e 4,50%, respectivamente.
Previsões do Boletim
Focus para 2017 e 2018
Observa-se
novamente que os juros reais praticados devem situar-se próximos à faixa de
4,50%. O que justifica este pânico no mercado a respeito da renda fixa? Quem
sabe o longo prazo então? Bom, não sou especialista em Economia, porém o Brasil
tem uma dívida bastante elevada e em vez de buscar reduzi-la, na verdade
trabalha com um rombo declarado para os próximos exercícios, ou seja, precisará
fazer novas e maiores dívidas para quitar dívidas anteriores, como pensar em
juro real próximo a zero? Se o Banco Central resolver passar por cima deste
princípio e reduzir à força os juros no Brasil (não esqueçam que em 2018
teremos eleições) quem ajudará o país a rolar a dívida tendo o risco elevado e
o prêmio reduzido? Sinceramente é muito difícil acreditar em uma queda
vertiginosa nos juros reais por aqui nos próximos anos ou quem sabe décadas,
visto que o governo terá que arcar com títulos do tesouro a taxas elevadas até
2035 ou 2050.
Se a SELIC
ou o CDI lhe parecem muito pouco num cenário de inflação mais comedida, fique à
vontade para buscar outras opções de investimento mais rentáveis, mas
dificilmente o Brasil perderá a fama de país da renda fixa nos próximos anos.
Boa, parabéns! Mas o que nos mata em relação a dívida pública são os vencimentos curtos e com taxas altíssimas. Mais do que o montante, o perfil da nossa dívida é totalmente insana.
ResponderExcluirAbraços e parabéns!