14 de fevereiro de 2017

É interessante se aposentar pelo INSS?



            Comenta-se muito a respeito da previdência social pública no Brasil nos últimos meses. Em virtude do déficit que cresce ano após ano entre aquilo que o governo arrecada e o que gasta na seguridade social foi elaborada uma PEC que, se aprovada, modificaria as regras para quem contribui com o INSS para se aposentar. Dentre algumas das modificações sugeridas pela proposta estão o estabelecimento de uma idade mínima de 65 anos e pelo menos 25 anos de contribuição para solicitar a aposentadoria; mudanças no valor do benefício que seria de 50% da média de contribuição na carreira do trabalhador a se somar uma alíquota de 1% para cada ano trabalhado, de maneira que o valor integral somente seja obtido com cinco décadas de recolhimento à seguridade social; além de outras alterações no regime de previdência dos servidores públicos.


            Diante do cenário longínquo e incerto da aposentadoria governamental paira um questionamento: será que é economicamente interessante se aposentar pelo INSS com as regras propostas? Mesmo sabendo que o recolhimento é compulsório bastam algumas contas para poder ter um parâmetro de comparação do que seria uma alternativa ao INSS.
             Para tentar responder esta pergunta é preciso coletar informações adicionais e fazer algumas suposições e simplificações. Primeiramente deve-se definir um prazo para o usufruto da aposentadoria, adotou-se então a estimativa de vida média do brasileiro em 2016, que ficou em 75,5 anos ou 75 anos e seis meses. Depois há de se definir a data de aposentadoria, fez-se a análise para um período de contribuição que vai dos 18 aos 65 anos, idade proposta como mínima para obtenção do benefício, e totalizando 47 anos de recolhimento ao órgão governamental o que garantiria 97% do benefício máximo provido pelo INSS para aquele valor de salário. Por fim utilizou-se dos dados da PNAD 2015, que informa que o rendimento médio mensal do trabalhador naquele ano foi de R$ 1.853,00. Para esta faixa de rendimento a alíquota de contribuição ao INSS está em 9% para empregados com carteira assinada, ou seja, R$ 166,77 todos os meses. Estipulou-se uma taxa de juros real de 4,00% ao ano (cerca de 0,33% ao mês).
              Na simulação convencionou-se por não se considerar a inflação para o período, uma vez que todas as taxas de juros foram reais, ou seja, descontadas de inflação. Desta maneira os valores apresentados refletem o poder de compra da data em que este texto foi publicado. Outras simplificações no processo foram a desconsideração da alíquota de contribuição de 20% paga diretamente pelas empresas, visto que não é feito desembolso direto pelo funcionário, da incidência de recolhimento sobre férias e décimo terceiro salário e, para facilitar as contas desta simulação, não foi considerado ganho real sobre o salário na progressão de carreira.
            Dois cenários distintos foram estudados, sendo o primeiro formado pela simulação conforme os parâmetros especificados e de acordo com os critérios do INSS, chegando a um valor de benefício estimado em R$ 1.797,41 mensais a ser usufruído dos 65 aos 75,5 anos de idade (período de 10,5 anos ou 126 meses) e o segundo cenário com o recolhimento obrigatório (R$ 166,77 mensais) aplicado todos os meses durante o período avaliado (47 anos ou 564 meses) a uma taxa real de 4,00% a.a. com  o principal acumulado até os 65 anos aplicado a esta mesma taxa com saques mensais de R$ 2.627,22, com o principal se esgotando na mesma data do primeiro cenário aos 75,5 anos. 



            Para estas considerações, obteve-se um benefício 46,17% maior do que aquele que seria provido pelo governo, o que deste simples ponto de vista torna o INSS menos atrativo do que a autogestão dos recursos para aposentadoria. Há de se considerar outras situações que poderiam alterar esta percepção de qual opção seria mais vantajosa como o fato da pessoa viver além ou aquém da expectativa de vida, a possibilidade de variação na taxa de juros real que pode ser obtida, outras reformas previdenciárias nos próximos 47 anos, distribuição de valores residuais a título de herança ou pensão, auxílios doença, licença maternidade, aposentadoria por invalidez, entre outros.

7 de fevereiro de 2017

Remoção de títulos no Tesouro Direto

A partir de 08/02/2017 o Tesouro Direto sofrerá uma pequena reformulação. Alguns títulos com horizontes de vencimento mais curtos ficarão indisponíveis para investimento pelo programa, pois a atratividade destes fica menor tanto quanto se aproxima do vencimento devido à incidência do imposto de renda. Não serão mais ofertados os seguintes títulos:
  • Tesouro Prefixado 2019 (LTN - 01/01/2019);
  • Tesouro IPCA+ 2019 (NTN-B Principal - 15/05/2019);
  • Tesouro SELIC 2021 (LFT - 01/03/2021).
Por sua vez, serão ofertados três novos títulos:
  • Tesouro Prefixado 2020 (LTN - 01/01/2020);
  • Tesouro IPCA+ 2045 (NTN-B Principal - 15/05/2045);
  • Tesouro SELIC 2023 (LFT - 01/03/2023).
Estas alterações podem trazer uma boa oportunidade para investimento de longo prazo, pois o Tesouro IPCA+ 2045 passa a ser o título com liquidez no vencimento de maior prazo do portfólio do Tesouro Direto, oferecendo ganho real e efeito de juros compostos bastante interessante (prazo de até 28 anos). Também merece ser ressaltado que o fenômeno observado em 2016 com a valorização do Tesouro IPCA+ 2035, melhor investimento do ano de 2016 com valorização de 47,81% (superando inclusive o IBOVESPA) para venda antecipada devido à perspectiva de queda de juros, tem condições de se repetir futuramente com este novo título. O Tesouro IPCA+ 2045 deve ser ainda mais volátil que o tesouro IPCA 2035+, podendo gerar lucros acima do esperado para a venda antecipada no caso da queda das taxas de juros do programa, mas ATENÇÃO, se a curva de juros se inverter dentro do período de investimento prejuízos podem ocorrer na liquidação antecipada.
Uma pequena crítica se permite fazer ao Tesouro Direto, ainda são poucas opções de títulos e datas de vencimento disponíveis para o investidor pessoa física, dando menos liberdade ao investidor para escolher as datas que deseja receber o dinheiro de volta ou organizar um fluxo de caixa mais consistente.